•A Umbanda tem Fundamento e é COISA SÉRIA, PARA QUEM É SÉRIO OU QUER SE TORNAR SÉRIO. Umbanda é bo

•A Umbanda tem Fundamento e é COISA SÉRIA, PARA QUEM É SÉRIO OU QUER SE TORNAR SÉRIO. Umbanda é bo
•A UMBANDA TEM FUNDAMENTO E É COISA SÉRIA, PARA QUEM É SÉRIO OU QUER SE TORNAR SÉRIO.
Obrigado, meu Deus, pela fé que me sustenta, Pelos amigos que fiz E continuo fazendo. Obrigado, meu Deus, Pelas bençãos de Ogum, Pela proteção de Iemanjá, pelo amor de Oxum. Obrigado, meu Deus, Pela força de Iansã, Pela retidão de Xangô, Pelo colo de Nanã. Obrigado, meu Deus, Pelo equilíbrio de Oxosse, Pelas curas de Omulu, pelas cores de Oxumarê. Obrigado, meu Deus, Pelas folhas de Ossãe, Pelas Crianças que enchem de alegria nossos Terreiros, Pela amizade dos Boiadeiros. Obrigado meu Deus, Pela humildade dos Pretos-Velhos, Pelas Almas Santas e Benditas, Pela cumplicidade de Exu e Pomba Gira. Obrigado, meu Deus, por fazer de mim um instrumento da Tua vitória. Até aqui o Senhor me ajudou! Deus salve a Umbanda!
Ney Rodrigues

RADIO C.E.A.B.

sábado, 7 de maio de 2011

CABOCLO CURUGUÇU E O SURGIMENTO DO MOVIMENTO UMBANDISTA.


Leal de Souza, poeta, escritor e jornalista foi dirigente 

da Tenda Nossa Senhora 

da Conceição, considerada 

por José Álvares Pessoa, 

uma das tendas mestras. 

Numa entrevista publicada 

no Jornal de Umbanda, em 

outubro de 1952, relatou: A 

Linha Branca de Umbanda 

é realmente a Religião Nacional do Brasil, pois que, 

através de seus ritos, os espíritos ancestrais, os pais da 

raça, orientam e conduzem 

suas descendências. O precursor da Linha Branca foi o Caboclo Curuguçu, que trabalhou até o advento do Caboclo das 

Sete Encruzilhadas que a organizou, isto é, que foi incumbido 

pelos guias superiores, que regem o nosso ciclo psíquico, de 

realizar na terra a concepção do Espaço.


No Brasil, também no século XIX, a Umbanda encontrou solo previamente preparado para seu advento. A Proclamação da República (vejam só: a antiga Constituição do Império, de 1824, consignava o Catolicismo como “Religião do Império”), a Abolição da escravatura, a popularidade da doutrina e da prática do Espiritismo foram eventos próximos no tempo e em alguns de seus desdobramentos.


Após a promulgação da Lei Áurea, centenas de escravos se viram ainda mais desvalidos; expulsos das fazendas, ocuparam desordenadamente os sítios urbanos sem nenhuma política de inserção social – sem ter onde trabalhar, onde morar, como subsistir. Um enorme contingente humano, marginalizado, aglomerou-se nos subúrbios, nos embriões das favelas, nas sombras hostis dos cortiços e becos das cidades, juntamente com mestiços e brancos de condição desfavorecida. Nessas comunidades, a miséria moral instalou-se ao lado da miséria material: estava formado o ambiente propício para a disseminação de charlatanismos, feitiçarias, superstições e toda sorte de rituais distorcidos e dirigidos para trabalhos do mal, de prejuízo aos desafetos ou obtenção de bens materiais. Segundo Matta e Silva, “toda essa complexa mistura, que o leigo chama de macumba, baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas fetichistas e barulhentas ... era a situação existente, quando surgiu um vigoroso movimento de luz, ordenado pelo Astral Superior, feito pelos espíritos que se apresentaram como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças”.No Plano Astral, ou na Espiritualidade, como queiram, inúmeros espíritos que foram - em vida terrena - escravos, índios e mestiços almejavam manter intercâmbio com seus irmãos encarnados; a prática do bem, o tratamento dos enfermos, a transformação de sentimentos e pensamentos (aliviar os carentes, encorajar os excluídos, abrandar os endurecidos) eram aspirações que os impeliam ao serviço de caridade. Entretanto, essas entidades não encontravam acolhida ao desenvolvimento de seu trabalho: ou se deparavam com casas voltadas a práticas pouco recomendáveis, ou recebiam o estigma de “manifestações demoníacas” pelos irmãos católicos, ou então eram “convidadas” a se retirarem de centros espíritas: antigos escravagistas e seus descendentes se viam em situação desconfortável perante espíritos de negros e índios que foram por eles aprisionados, torturados (e até mortos) manifestando-se durante os trabalhos espirituais da religião codificada na França e trazida ao Brasil pelo segmento da sociedade brasileira que enriqueceu – direta ou indiretamente - às custas da exploração do trabalho desses irmãos. Orgulho, vaidade e remorso “torciam os bigodes” da nata da sociedade que compunha grande parte das mesas espíritas. Foi nesse contexto que, em atividades mediúnicas sediadas em diversas localidades brasileiras, ocorreram várias manifestações de entidades espirituais anunciando a chegada de um movimento religioso renovador, trazendo um sopro de esperança, amor e fé. A entidade conhecida como Caboclo Curuguçu (ou Curugussu), da linha de Ogum, apresentou-se durante alguns anos, coordenando o trabalho de vários outros colaboradores espirituais que traziam a mesma mensagem. Alguns autores afirmam que o termo “Umbanda” já era citado em algumas dessas comunicações; outros, por sua vez, declaram que, além de anunciar a chegada da Umbanda, o Caboclo Curuguçu dizia ser emissário da raça vermelha “pura”, ou seja, que os caboclos que coordenam o movimento umbandista atual, na Espiritualidade, não são os indígenas da época da colonização ou seus remanescentes, mas espíritos muito evoluídos da antiga raça vermelha, que viveu nesta terra há milênios. Polêmicas à parte, o que provavelmente a Espiritualidade pretendia era preparar corações e mentes para o advento de   uma nova forma de expressão da devoção e da fé.




 Ponto do Caboclo Curuguçu

Eu vem lá da Aruanda
Trazendo a luz, a luz da Umbanda
Eu vem com o clarim de Ogum
Anunciar que a Umbanda vai chegar
Eu é caboclo de Umbanda
Eu vem do Cruzeiro do Sul
Eu é caboclo Curuguçu
Meu grito já ecoou
É a Umbanda que chegou
Meu grito ecoou
Pai Oxalá quem me mandou
Eu é Curuguçu
Da corrente de Ogum
Que aqui chegou


sexta-feira, 6 de maio de 2011

A História de Zelio de Moraes & Benjamin Figueiredo ( Onde tudo Começou)

ZÉLIO DE MORAES & BENJAMIN FIGUEIREDO

Segundo os relatos que todos sempre ouvimos, Benjamin Gonçalves Figueiredo recebeu ordens do Caboclo Mirim em 1920, durante uma das sessões espíritas (kardecistas) que a família dele desenvolvia, determinando que aquela seria a ultima sessão espírita da família e que daquele momento em diante eles deveriam trabalhar com Umbanda.
Mas apenas em 1924, Benjamin Figueiredo funda a Tenda Espírita Mirim, quatro anos após ter recebido as ordens do Caboclo Mirim. Por onde esteve Benjamin nesse tempo?

Eu já havia ouvido uma versão que dizia que Benjamin teria freqüentado a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (TENSP) dirigida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, o Sr. Orixá Mallet e Pai Antônio, que trabalhavam através de Zélio Fernandino de Moraes.

Agora, tivemos finalmente a oportunidade de ouvir uma antiga entrevista de Zélio de Moraes, que nos confirma este vínculo entre dois dos mais importantes baluartes da Umbanda, e explicaria o porquê de Benjamin Gonçalves Figueiredo demorar quatro anos para cumprir a ordem do Caboclo Mirim.

Na entrevista, Zélio nos conta que Benjamin passou a freqüentar a TENSP, a fim de se desenvolver na Umbanda, e se preparar para adquirir as condições de trabalho exigidas por Caboclo Mirim na missão que se anunciara.

Ouvimos na fita que, provavelmente ao fim desse período, a entidade Orixá Mallet, incorporado em Zélio, pegou Benjamin e o carregou nas costas por cerca de meio quilômetro, atirando-o na areia da praia. Ali cantou curimbas que ninguém entendia, enquanto Benjamin ia rolando na areia até a beira do mar. Então, colocando-o nos ombros, o Sr. Orixá Mallet adentrou o mar (e ambos não sabiam nadar). No fundo, o atirou ao mar, tendo, logo após o fato, dito a Benjamin Figueiredo que este já estava pronto pra trabalhar plenamente com Caboclo Mirim.

Na gravação há ainda o relato de como Benjamin Figueiredo conheceu outra entidade fundamental em seu desenvolvimento: o querido Pai Roberto. Na Tenda Mirim ouvimos várias vezes este Preto-Velho nos contar que realmente trabalhava muito com feitiçaria, até que Caboclo Mirim desse a oportunidade dele crescer e evoluir dentro da Umbanda. É o que ouvimos, com novos detalhes, o entrevistador Sr. João de Oliveira nos contar.

Ele conheceu a entidade Pai Roberto quando ainda trabalhava com um outro médium no bairro de Alcântara, São Gonçalo/RJ. Lá bebia whisky, fazia feitiçarias e trabalhos de magia... jogava até ponteiras de aço. Certa vez Benjamin estava visitando aquele terreiro, quando ouviu de Pai Roberto, incorporado naquele médium, que ele abandonaria o “cavalo” atual dele e que iria passar a trabalhar através da mediunidade de Benjamin, abandonando então os trabalhos de feitiçaria que fazia através de seu antigo médium, o que de fato ocorreu. Pai Roberto assumiria a partir daquele momento o seu lugar junto a Caboclo Mirim no desenvolvimento da Tenda Mirim.

Irmãos, o som é ruim, mas legível o suficiente para se entender os fatos aqui narrados, descritos a partir dos 17 minutos de gravação. Confiram:

http://registrosdeumbanda.wordpress.com/2010/05/05/a-ligacao-entre-zelio-de-moraes-e-benjamim-figueiredo

- O LEGADO DE BENJAMIN FIGUEIREDO -

UMBANDA: 100 ANOS (1908 - 2008)

- O LEGADO DE BENJAMIN FIGUEIREDO -


INTRODUÇÃO

Escrever sobre Benjamin Gonçalves Figueiredo não é apenas falar do homem e do médium, porque sua vida se mistura com a mensagem e com a obra de seu mentor espiritual, um dos mais importantes dirigentes espirituais da Umbanda: o magnífico Caboclo Mirim. Ambos serão para sempre um exemplo edificante de amor ao próximo e de luta pela dignidade do culto umbandista.

Em um momento histórico-cultural difícil para a Umbanda, Benjamin Figueiredo foi um dos principais expoentes no movimento pela evolução do culto e pelo reconhecimento das casas umbandistas junto às autoridades de seu tempo, estando lado a lado de alguns dos incansáveis guerreiros dos primeiros anos da nossa querida Umbanda, tais como Zélio Fernandino de Moraes, Domingos dos Santos, João Carneiro de Almeida, José Álvares Pessoa, Manoel Nogueira Aranha, João de Freitas, Cavalcanti Bandeira, Cícero Bernardino de Melo, Narciso Cavalcanti, Félix Nascente Pinto, Jerônimo de Souza, Henrique Landi Júnior, Matta e Silva, Tancredo da Silva Pinto, Átilla Nunes (pai), Omolubá, Flavio da Guiné, dentre outros.



Por toda uma vida voltada à unificação dos umbandistas, Benjamin Gonçalves Figueiredo deixou registrada em nossa memória as lembranças do incansável líder, do médium admirável de Caboclo Mirim e de Pai Roberto e do homem cuja integridade e ideais em muito superaram os seus dias, nos trazendo até os dias de hoje os ecos de uma bela mensagem de fé e de determinação em tirar a Umbanda da marginalidade a qual esteve relegada pela sociedade brasileira até meados do século passado.


A ANUNCIAÇÃO DA UMBANDA
Há cerca de 20 anos após a proclamação da República, a sociedade brasileira vivia profundas transformações, ainda em busca de sua personalidade, de sua “brasilidade”. No mundo das artes, por exemplo, um grupo de artistas revolucionava a estética e a linguagem na Semana de Arte Moderna de 1922. Esse sentimento nacionalista viria também a se manifestar na política, com a ascensão de Getulio Vargas ao poder, já na década de 1930. Era o fim da hegemonia da elite agrária e a implantação do Estado Novo.

A característica mestiça da população brasileira passava a ser valorizada, tida como forma de união da nação. Por essa visão, os vários grupos raciais ganhavam igual importância na formação da civilização brasileira. Esta ideologia ajudou na crença de que o preconceito racial não existia no Brasil. Gilberto Freyre, em seu livro "Casa Grande e Senzala" (1933), foi um dos intelectuais que deram suporte a tal tese.

Até o samba, manifestação cultural oriunda da cultura negra brasileira, era redescoberto e reformatado, levado a um universo mais amplo: brilhava a estrela de Carmem Miranda!




E dentro deste contexto nacional, um fato marcante, para aqueles que se propõe a estudar as origens da Umbanda, veio a consolidar-se como o marco inicial da religião: a famosa manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas em 1908, através do seu médium Zélio Fernandino de Moraes (1891-1975), na cidade de Niterói, então capital do antigo estado do Rio de Janeiro. A data, 15 de novembro, é a mesma da comemoração da proclamação da República brasileira. Coincidência?



Diante de uma respeitada e organizada Federação Espírita Brasileira, Caboclo das Sete Encruzilhadas pôde deixar registrada a definição do novo movimento religioso: "Uma manifestação do espírito para a caridade”. Caridade, a principal lei da Umbanda, religião do amor fraterno em benefício dos irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.

Sabe-se que aquela não foi a primeira manifestação mediúnica de um espírito com perfil de um índio brasileiro, uma vez que desde o final do século XIX há registro da presença destes em pequenos terreiros, espalhados à margem da sociedade daqueles dias, as ditas “macumbas cariocas”. Mas o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas foi realmente especial por diversos aspectos. No início do século XX, “macumba” podia facilmente definir toda e qualquer relação mediúnica (geralmente promíscua) de curandeiros, pais-de-santo, feiticeiros, charlatões, e todos aqueles que se dispunham a intervir junto às forças invisíveis do além apenas em troca de dinheiro e poder, como bem descreve Paulo Barreto em 1904, sob o pseudônimo de “João do Rio”, no livro “As Religiões no Rio”:

“Vivemos na dependência do Feitiço, dessa caterva de negros e negras de babaloxás e yauô, somos nós que lhes asseguramos a existência, com o carinho de um negociante por uma amante atriz. O Feitiço é o nosso vício, o nosso gozo, a degeneração. Exige, damoslhe; explora, deixamo-nos explorar e, seja ele maitre-chanteur, assassino, larápio, fica sempre impune e forte pela vida que lhe empresta o nosso dinheiro.”
Daí percebe-se a grandeza da missão do Caboclo das Sete Encruzilhadas como mensageiro das diretrizes da mais altas esferas da espiritualidade. Sua presença e sua mensagem eram muito claras: uma nova legião de entidades iluminadas trabalharia pela elevação moral e espiritual do nosso povo, sob a inspiração de Cristo-Oxalá. Era o nascimento da Umbanda!

Desta forma entendemos porque, em 12 de março de 1920, outro jovem médium viria a ser o veículo de mais um iluminado Mestre, que também se utilizando da roupagem fluídica de um índio brasileiro, veio ratificar a mensagem de humildade e caridade da Umbanda.



Vinha ensinar a prática da mediunidade em sintonia e respeito à natureza e ao livre-arbítrio do praticante, na plenitude da “Escola da Vida”.

Assim, Caboclo Mirim se manifestava pela primeira vez naquele que seria seu companheiro de uma vida:Benjamin Gonçalves Figueiredo (26/12/1902 - 03/12/1986).

A TENDA ESPÍRITA MIRIM EM 1924

Benjamin Gonçalves Figueiredo, então com dezessete anos, participava com sua família de sessões espíritas (kardecistas) até que, em março de 1920, em uma dessas reuniões, Caboclo Mirim incorporou o jovem médium e anunciou que aquela seria a última sessão de Kardec realizada por aquela família e que as próximas passariam a ser de Umbanda, religião apresentada apenas há pouco mais de dez anos.

A partir de então, toda a família Figueiredo viu-se envolvida na formação daquele que seria um dos mais importantes núcleos umbandistas do Brasil. Aos 13 dias do mês de março do ano de 1924 considerou-se fundada a Tenda Espírita Mirim. Desde o início Caboclo Mirim advertiu que aquela seria uma Organização única no gênero em todo o Brasil, cujo método seria adotado por outras Tendas, até mesmo em outros Estados da Federação.

De fato, o ritual da Tenda Mirim sempre se destacou no meio umbandista por trazer influencias de correntes filosóficas que vão desde o Ocultismo e a Teosofia ao Espiritismo de Kardec. Caboclo Mirim aboliu do seu culto diversos elementos que estavam intimamente ligados à noção de que se tinha das “macumbas” e feitiçarias reinantes naqueles tempos, bem como alguns outros também relacionados ao culto católico e à cultura africana, em especial.

Ainda como parte da ruptura com outras religiões, nos terreiros orientados por Caboclo Mirim não se encontravam altares com as imagens católicas, apenas a de Jesus Cristo situado acima da altura da cabeça dos médiuns, onde se lia a inscrição “O Médium Supremo”. Os atabaques foram trocados por enormes tambores (tocados sentados), toalhas-de-guarda e as vestes rendadas coloridas, típicas da Bahia, deram lugar aos brancos uniformes e calçados, sempre sóbrios, como a lembrar a seus médiuns que todos eram apenas operários da fé, ou melhor, “Soldados de Oxalá”, como na letra de um belo hino da Tenda Mirim. Nenhum ornamento, nem guias, colares ou qualquer tipo de ostentação pessoal era aceita. Antes da abertura dos trabalhos, era até difícil ao visitante reconhecer os dirigentes dentre os demais médiuns da Casa.

Foi um primeiro passo em busca de uma identidade própria para a Umbanda, buscando-se dignificar o culto e seus participantes, tendo como base a organização e a disciplina do conjunto do corpo mediúnico da casa umbandista. Percebe-se ainda a nítida influência do movimento positivista daqueles tempos, através de uma certa rigidez hierárquica e disciplinar no terreiro, o que aliás, atraiu muitos médiuns militares para as fileiras das casas sob a orientação de Benjamin Gonçalves Figueiredo.

Caboclo Mirim introduziu também o conceito de graduação aos seus médiuns em desenvolvimento, com uma classificação própria para cada um nos trabalhos de atendimento público. Foi, talvez, a primeira Escola de Formação Iniciática Umbandista!

O novo adepto da religião iniciava seu desenvolvimento mediúnico na base da pirâmide hierárquica do terreiro, e ia ascendendo nela conforme em seu próprio ritmo, levando-se em conta a seriedade e a dedicação do neófito, e sempre de acordo com a intensidade e a qualidade com que seus próprios Guias trabalhavam junto ao médium.

Com isso, durante seu desenvolvimento, o médium exercitaria várias funções dentro dos trabalhos de caridade. A nomenclatura dos sete graus foi baseada na terminologia da língua Nheêngatú, da antiga raça dos índios Tupy. Assim ficaram classificados:

· 1º Grau: Bojámirins - Entidades dos médiuns Iniciantes (I)
· 2º Grau: Bojás - Entidades dos médiuns de Banco (B)
· 3º Grau: Bojáguassús - Entidades dos médiuns de Terreiro (T)
· 4º Grau: Abarémirins - Entidades dos Sub-Chefes de Terreiros (SCT)
· 5º Grau: Abarés - Entidades dos Chefes de Terreiros (CT)
· 6º Grau: Abaréguassús - Entidades dos Sub Comandantes Chefes de Terreiros (SCCT)
· 7º Grau: Morubixabas – Entidades dos Comandantes Chefes de Terreiros (CCT)

A liturgia aplicada nos terreiros também introduzia novos conceitos à fé umbandistas. Caboclo Mirim sintetizou o tradicional panteão africano em algumas linhas de trabalho sob a égide de Tupã, o Senhor da criação na cultura Tupi-Guarani. Os Orixás evocados nos trabalhos da Tenda Mirim eram: Oxalá, Oxossi (e Jurema), Ogum, Iemanjá, Oxum, Nanã, Iansã e Xangô. Sempre se evitando o sincretismo com os santos católicos, principalmente nas curimbas cantadas.

As manifestações mediúnicas davam-se sempre através dos Caboclos, Pretos-Velhos e as Ibeijadas (crianças), e não havia sequer uma saudação aos Exus e Pomba-Giras, muito menos uma Gira ou sessão própria para o trabalho destes. Certamente uma atitude que visava ratificar a ruptura da Umbanda com as populares “macumbas”. Para muitos, Benjamin Figueiredo parecia ignorar completamente a existência do “Povo da Rua”, bem como a extensão e a importância dos trabalhos próprios dessa linha. Benjamin parecia ignorar, perante os olhares menos atentos...

Realmente, nos tempos de Benjamin Figueiredo, as casas ligadas à Tenda Mirim não faziam Giras próprias de Exu e Pomba-Gira. Mas sua participação sempre foi fundamental na corrente astral da Casa.

Com um olhar mais apurado observava-se a presença do “Povo da Rua” auxiliando desde o desenvolvimento dos médiuns iniciantes bem como trabalhando pesado no descarrego de médiuns e consulentes. Mas sempre de uma forma extremamente discreta, fosse junto aos Caboclos e Pretos-Velhos, fosse junto à parte do corpo mediúnico denominados “médiuns de banco”. Essa categoria de médiuns tinha como principal característica operar sempre sentado e de forma receptiva (ou passiva), em contraponto aos médiuns de terreiro incorporados com seus Caboclos, que ministravam o passe no consulente, de forma ativa. Os médiuns de banco se doavam fornecendo ectoplasma e também auxiliando na dispersão de energias maléficas e/ou miasmas, bem como na condução de almas sofredoras ou espíritos trevosos (“exunizados”).

Este era o trabalho fundamental das sessões de caridade sob a orientação de Caboclo Mirim.

Daí percebe-se que só com a segurança dos sempre alertas Exus e Pomba-Giras, em total sintonia e cooperação com as demais entidades presentes, se alcançava o pleno êxito em cada sessão.

Além das sessões de caridade, outro evento importante sob a direção de Caboclo Mirim eram as magníficas Giras mensais. Em seu enorme terreiro (20 x 50 metros), inaugurado em 1942, cerca de 2000 (dois mil!) médiuns da Tenda Mirim, suas filiais e Casas co-irmãs, confraternizavam com seus Caboclos e Pretos-Velhos em uma só poderosa vibração de amor aos Orixás e à Umbanda.

A partir dos anos 50, com um trabalho já bem consolidado na sua matriz no Rio de Janeiro, Caboclo Mirim responsabilizou vários médiuns a levar as Tendas de Umbanda ao longo de todo território nacional. A primeira casa descendente da Tenda Mirim foi criada em 30/06/1951, como filial, em Queimados, cidade de Nova Iguaçu. Depois desta, novas casas foram abertas em Austin, Realengo, Colégio, Jacarepaguá, Itaboraí e Petrópolis. A primeira casa descendente do Caboclo Mirim, aberta fora do Rio de Janeiro foi na cidade de Assaí, no Paraná.

Até 1970, já tinham sido abertas 32 casas sob a orientação de Caboclo Mirim.


A UMBANDA FORA DA MARGINALIDADE

Nos primeiros anos da Umbanda, ainda no início do século XX, a repressão ao dito baixo espiritismo era bastante intensa. A Maçonaria, a Umbanda, o Espiritismo de Kardec e principalmente os cultos afro-brasileiros eram reprimidos com vigor. Pior ainda durante o período da ditadura Vargas, quando a polícia agia violentamente, com a justificativa de que a macumba tinha ligações com a subversão, servindo até para dar cobertura a grupos comunistas, segundo relatos da época. Uma lei datada de 1934 colocou todos esses grupos sob a jurisdição do Departamento de Tóxicos e Mistificações da Polícia do Rio de Janeiro, na seção especial de Costumes e Diversões, que lidava com problemas relacionados com álcool, drogas, jogo ilegal e prostituição. Praticar a Umbanda era então uma atividade marginal! (perdurou com tal classificação até a reorganização do Departamento de Polícia do Rio, em 1964)

Essa mesma lei de 1934 gerou uma situação dúbia: se o registro na polícia permitia aos terreiros a prática legal, concretamente, servia para facilitar a ação das autoridades, aumentando a possibilidade de intimidação e extorsão. Registrados ou não, os umbandistas e demais praticantes de cultos afro-brasileiros ficavam expostos à severa perseguição policial do Rio. Não era difícil ver a polícia invadir e fechar terreiros, confiscando objetos rituais, e muitas vezes prendendo os participantes. Benjamin Figueiredo, Zélio Fernandino de Moraes e muitos outros foram presos diversas vezes nesse período.

Mas havia um “modelo” que vinha conquistando seu espaço na sociedade brasileira: A Federação Espírita Brasileira (FEB), fundada desde 1º de janeiro de 1884. Nos anos 30, esta já conseguira se firmar como legítima representante do Espiritismo no Brasil, unificando, fortalecendo e tornando coesas as Casas espíritas.
O simbolismo que carrega o vocábulo “federação”, como idéia de unidade nacional, servia ao discurso da Era Vargas, que naqueles tempos já via com bons olhos a religião espírita, como mais uma fonte de pacificação e, principalmente, controle das massas pela elite “branca” da sociedade.

Tentando se livrar do estigma marginal dos feiticeiros, iniciou-se um claro movimento por uma auto-identificação dos umbandistas com o Kardecismo e com o alto espiritismo. O próprio termo espírita foi usado para esconder nomes e para disfarçar os praticantes da Umbanda de sua ascendência afro-brasileira, quase como uma nova forma de sincretismo, tal qual a máscara católica que as religiões afro-brasileiras se utilizaram nos tempos do cativeiro. Daí a denominação de tantas Casas umbandistas tradicionais: Tenda Espírita Mirim, Tenda Espírita Fraternidade da Luz, Tenda Espírita Estrela Guia da Umbanda, etc..

Os números de São Paulo, apresentados pelo professor de Sociologia da Religião Lísias Nogueira Negrão (livro Entre a Cruz e a Encruzilhada. São Paulo: Edusp, 1996), são um ótimo exemplo: de 1929 a 1944 o número de centros espíritas kardecistas registrados em cartórios representava 94% do total de unidades religiosas registradas, contra apenas 6% das casas declaradas de Umbanda. Alguns anos depois, no período de 1953 a 1959 (após a descriminalização), este número já havia se invertido, com 68% de casas de Umbanda contra 31% de casas kardecistas.

O movimento umbandista ganhava corpo e estruturava-se a fim de obter o status de religião brasileira. O exemplo da FEB deve ter parecido a melhor opção para as lideranças umbandista daqueles tempos. Criar uma federação para negociar com o Estado a regulamentação da Umbanda, e conseqüentemente o fim da repressão ao culto, inserindo assim a Umbanda na estrutura do Estado pela via institucional foi o caminho escolhido. Em 1939 fundou-se a Federação Espírita de Umbanda, atual União Espírita de Umbanda do Brasil. Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo, Tancredo Pinto e outros se uniram em torno de um só ideal: tirar a Umbanda da marginalidade, organizando-a como uma religião coerente e hegemônica e assim obtendo sua legitimação social.

Esse grupo realizou então o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda em 1941, onde essas lideranças apresentaram suas teses sobre a religião. A corrente predominante trazia à sociedade uma Umbanda original e evoluída que existiria desde o oriente, de onde teria se espalhado para a Lemúria (um lendário continente perdido), e daí para a África, onde teria degenerado para o feiticismo, forma que teria chegado ao Brasil pelos escravos negros. Assim, a influência africana na Umbanda não era negada, mas olhada como uma corrupção da tradição religiosa original, na sua fase anterior de evolução.

A defesa da nova definição do termo Umbanda, reflete bem o pensamento dos intelectuais da religião, unidos naquele primeiro congresso. Ali surgiu, pela primeira vez, a expressão AUM-BANDHÃ do Sânscrito aume bhanda, termos que foram traduzidos como "o limitado no ilimitado", "Princípio Divino, luz radiante, fonte de vida eterna, evolução constante". Tal tese, apresentada pela Tenda Espírita Mirim, é até hoje aceita por diversas correntes umbandistas.

Alguns estudiosos apontam nessa primeira tentativa de consolidação da Umbanda forte tendência de desafricanização e embranquecimento da Umbanda, uma vez que os demais líderes das religiões Afro-Brasileiras foram excluídos desse encontro histórico. Alegam também que a dita “lavagem branca” da origem da Umbanda pode ser encontrada em denominações comuns à época, como umbanda pura, umbanda limpa, umbanda branca e umbanda da linha branca no sentido de "magia branca". Termos que contrastavam com magia negra e linha negra, associados com o mal.

Mas a verdadeira luta de Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo e seus contemporâneos era pela descriminalização da prática da Umbanda, o que viria a ser o maior feito daquele Primeiro Congresso. Em 1944, essas mesmas lideranças umbandistas apresentam ao então Presidente
Getúlio Vargas um documento entitulado "O Culto da Umbanda em Face da Lei", conseguindo que o governo brasileiro aprovasse a descriminalização da nossa querida religião.


PAPAS & CODIFICAÇÕES
Apesar de uma grande vitória, a descriminalização da Umbanda não foi suficiente para manter unidas as lideranças do movimento, juntas até então pela legitimação da religião. Por volta de 1950, essas mesmas lideranças passaram a se entrincheirar em torno de seus pontos-de-vista pessoais, cada qual defendido com ardor e paixão, abrindo-se assim um enorme fosso dentre as diversas correntes umbandistas. Diversas Federações são fundadas no Brasil (só no RJ foram novas seis!).


Com o fim da perseguição das autoridades públicas à Umbanda, a religião passou por um rápido período de crescimento. Estavam abertas as portas da Umbanda aos mais diversos grupos que ainda se encontravam marginalizados, da mesma forma que um dia esta se encontrara. Todos os terreiros, das mais variadas “linhas”, incluíram em seus nomes a palavra Umbanda como forma de fugir à repressão policial. Nesse momento, cresce a corrente que defende a influência da cultura africana sobre o culto umbandista, e ganha destaque um dos seus principais expoentes: Tancredo da Silva Pinto (1904-1979), considerado o organizador do culto Omolokô no Brasil. (foto à esquerda)


Ainda em 1950, Tancredo rompe com a Federação Espírita de Umbanda e funda a Confederação Espírita Umbandista do Brasil. Bastante atuante, viaja por quase todo o país, fundando Federações no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, dentre outros, sempre com o objetivo de organizar e dar personalidade ao culto.

Inspirado pela tese do médico, etnólogo e professor Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), Tancredo defendeu com ardor sua visão da Umbanda, que via na pureza racial negra a legitimidade das práticas umbandistas. Tancredo Pinto lançou mais de 30 livros, e passaria 25 anos escrevendo uma coluna semanal no jornal “O Dia”, o que faria com que seus ideais tivessem grande ascendência sobre os setores mais humildes da Umbanda, chegando inclusive a receber o título de "Táta de Umbanda" ("Papa da Umbanda").

Como um dos maiores representantes da corrente umbandista que liderara o Primeiro Congresso de Umbanda, Benjamin Gonçalves Figueiredo, Presidente da Tenda Espírita Mirim (RJ), também sabia que aquele era o momento de levar a Umbanda pelo Brasil afora. Em 1951, a Tenda Mirim já iniciara seu processo de expansão, abrindo filiais em todo o estado do Rio.

Então, visando a expansão em nível nacional, Benjamin Figueiredo, inspirado por seu mentor Caboclo Mirim, convoca diversos dirigentes umbandistas a fim de se unirem em torno de um ideal maior: a codificação da Umbanda. Juntas essas Casas umbandistas fundam, em 03 de outubro de 1952, no Rio de Janeiro, o Primado de Umbanda.
foto: Primado de Umbanda no Maracãnazinho – 1965 (Festa de IV Centenário da cidade do Rio)

Idealizado como uma instituição federativa, o Primado visava o fortalecimento da Umbanda e a maior união e entendimento entre seus responsáveis e adeptos, procurando estabelecer, o quanto possível, maior uniformidade nos trabalhos espirituais e práticas do ritual. Destacando-se pela organização, disciplina e seriedade, e sob a condução de Benjamin, eleito primeiro Primaz, o Primado de Umbanda cresceu rapidamente, contando com dezenas de Casas filiadas em poucos anos.


O Primado ainda congregaria outros segmentos umbandistas e apoiaria a organização de um novo Congresso de Umbanda. Neste segundo Congresso, realizado em 1961 sob a presidência do Sr. Henrique Landi Junior, novamente debateu-se a codificação da religião e aprovou-se o Hino da Umbanda, de autoria de J. M. Alves.
Ainda haveria um 3º Congresso, efetivamente realizado em 1973.

Templo de Oxossi (RJ) - 1970
Benjamin Figueiredo ainda incentivou a criação do Colegiado Espiritualista do Cruzeiro do Sul, do Círculo de Escritores e Jornalistas de Umbanda, e seria o principal fundador da Escola Superior Iniciática de Umbanda do Brasil, da qual foi Conselheiro Nato.

Também nos anos 50/60, muitos autores apresentam obras literárias sobre a Umbanda. Além de Benjamin Figueiredo (Okê Caboclo – 1962) e Tancredo da Silva Pinto, também há livros lançados por Aluízio Fontenele, Byron Torres, Decelso, Emanuel Zespo Jota Alves de Oliveira, João Varela, Lourenço Braga, Oliveira Magno, Samuel Ponze, Silvio Pereira Maciel, dentre outros.

Em 1956 surge um novo personagem que merece destaque: é W.W. da Matta e Silva (1917-1988, foto) com o seu livro "Umbanda de Todos Nós". Sua pesquisa apresenta a religião como ciência e filosofia, em uma linha próxima ao que já apresentara o Primado de Umbanda e Oliveira Magno em seu livro "A Umbanda Esotérica e Iniciática” (1950).

Com grande repercussão no meio umbandista, o livro também é visto como mais uma tentativa de codificação da religião. Matta e Silva ainda lançaria mais oito livros, apresentando sua forma particular de se praticar Umbanda, que viria a ser conhecida como “Umbanda Esotérica”, criando assim mais uma segmentação dentro da religião.

Sempre lutando contra o uso comercial da Umbanda, contra as práticas que alimentam o “baixo espiritismo” e, principalmente, contra a ignorância do corpo mediúnico, Matta e Silva (Mestre Yapacani) iniciou em seu terreiro centenas de médiuns na sua corrente astral do “Aumbhandan”, e preparou muitos outros para liderarem agrupamentos religiosos que hoje se distribuem por todo território nacional.

Talvez o mais famosos deles, tido como seu sucessor, seja o Sr. Francisco Rivas Neto (Mestre Arhapiagha), Presidente da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino (O.I.C.D.) e Reitor Geral da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU).

O antagonismo dessas principais correntes gera debates que afetam os umbandistas até os dias de hoje. E tal qual naqueles tempos, hoje ainda observa-se que cada grupo ou organização implanta sua própria “codificação”, tentando influenciar o movimento umbandista com sua visão e seus ideais, através da mídia escrita, TV ou Internet.

Mas vale ressaltar que não há verdade absoluta, Centro ou Tenda melhor ou pior, mais “evoluída” do que qualquer outra. Será sempre seguindo princípios básicos de amor e, principalmente, respeito ao próximo, que conseguirá o umbandista ver que, abaixo das pequenas diferenças de culto exterior, somos todos IRMÃOS DE FÉ.


O LEGADO DE BENJAMIN
A Umbanda, quase 100 anos após a famosa apresentação pública de Caboclo das Sete Encruzilhadas, ainda é uma jovem religião em busca de sua afirmação. E merecem o nosso respeito e admiração todos os incansáveis guerreiros que abriram as primeiras trilhas, que seguiram em caminhos nunca antes percorridos e que criaram as bases para que, um século depois, pudessem os umbandistas ter orgulho dos nossos terreiros e de nossos Guias. Essa foi a grande luta de Benjamin Gonçalves Figueiredo.

“A Umbanda é coisa séria para gente séria". Assim, Caboclo Mirim anunciava que era chegado um novo tempo aos verdadeiros umbandistas, era hora de abandonar os excessos litúrgicos, e de cada um despertar para sua jornada de crescimento íntimo, sob a luz dos Guias de Aruanda.

Benjamin Figueiredo soube estar à altura de uma obra maior, orientada pela legítima cúpula espiritual do movimento umbandista. Sabia que, em seu tempo, seria conhecido como um radical, pela intransigência que precisaria defender uma Umbanda livre dos grilhões de feiticeiros e exploradores da fé, das supertições que poluíam as mentes mais imaturas de alguns fiéis, e principalmente da marginalidade que a sociedade relegava nossa religião.

Realmente não foi um grande escritor, mas seu exemplo seria seu maior diferencial. Como médium dedicado de Caboclo Mirim e Pai Roberto, consolidou a Tenda Mirim e o Primado de Umbanda como verdadeiras Escolas Iniciáticas, provando que a Umbanda tinha vida própria fora da cultura afro-brasileira.

Alguns o acusaram de “embranquecer” a Umbanda, mas Benjamin nunca aceitou o ser humano, e suas manifestações sócio-culturais, como algo estático. Acreditava que tudo evolui, cresce e se desenvolve. É a “Escola da Vida” trazida por Caboclo Mirim! Claro que respeitava a cultura negra que tanto enriquece nossa religião, mas achava dispensável ao culto alguns dos rituais africanos mais rústicos. Para ele, Umbanda nunca seria lugar para matanças de animais, “fundangas”, raspagens de cabeça, camarinhas, “recolhimentos” ou “obrigações” aos Orixás.

O “radicalismo” de Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo e seus companheiros, permitiu que não predominasse na Umbanda apenas a matriz africana e a avassaladora cultura Yorubá, da mesma forma que se observa sua forte presença nos Cultos de Nação. Talvez, sem sua contribuição, a Umbanda hoje seria apenas uma forma “light” do Candomblé. Mas, respeitando-se como religiões irmãs, cada qual vem aprendendo a consolidar sua própria visão do universo, com seus próprios fundamentos, rituais e, principalmente, sacerdotes.

Assim, a Umbanda pôde consolidar-se como religião universalista, com espaço para diversas influências que enriqueceram e fortaleceram os umbandistas, permitindo que observemos em nossos terreiros a presença da matriz católica, da matriz espírita, da matriz orientalista, etc.

A conclusão que chegamos é que será na busca do equilíbrio, do “Caminho do Meio”, que a Umbanda crescerá. Os gregos antigos já nos ensinavam que a temperança, a prudência e a modéstia, aliadas à moderação e ao bom senso, compõe as condições indispensáveis a se alcançar um estado de espírito são e calmo (Sophrosyne).
Mas trilhar pelo meio não significa ignorar a energia dos extremos, com sua força e sua vitalidade. O melhor caminho será encontrado na polarização correta dessas forças, não na sua anulação. No caminho do meio todos os extremos se encontram, e nele todos os extremos se apóiam e se fortalecem.

Que os filhos da nossa querida Umbanda reconheçam o conjunto das forças presentes em sua religião, e possam encontrar em seu equilíbrio a verdadeira Luz de Aruanda!!!



SERGIO NAVARRO TEIXEIRAFraternidade Umbandista LUZ DE ARUANDA
Barra Mansa/RJ

Março de 2008


Bibliografia:

· BARRETO, Paulo (“João do Rio”). As Religiões no Rio - Editora Nova Aguilar (1976)
· BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio (Cadernos do ISER. Umbanda & Política. Volume 18) - Editora Marco Zero.
· Federação Espírita de Umbanda. Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda. Trabalhos apresentados ao 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, reunidos no Rio de Janeiro, de 19 a 26 de Outubro de 1941. Jornal do Commércio - RJ (1942)
· FIGUEIREDO, Benjamin Gonçalves. Okê Caboclo - Editora ECO (1962)
· OLIVEIRA, Jota Alves de. Magias da Umbanda – Editora ECO (1970)
· DECELSO. Umbanda de Caboclos – Editora ECO (1972)
· Primado de Umbanda - Ordenações do Primado de Umbanda
· NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a Cruz e a Encruzilhada – Edusp (1996)
· TRINDADE, Diamantino Fernandes. Umbanda e sua História - Ícone Editora
·JENSEN, Tina Gudrun. Discursos sobre as religiões afro-brasileiras - Da desafricanização para a reafricanização - (traduzido por Maria Filomena Mecabô)
· PRANDI, Reginaldo. O Brasil com Axé: Candomblé e Umbanda no Mercado Religioso (2004)
· Revista Espiritual de Umbanda nº 06 – Editora Escala (2004)
· OLIVEIRA, José Henrique M. As estratégias de legitimação da Umbanda durante o Estado Novo: institucionalização e evolucionismo. (23/05/2006.)
· SÁ JUNIOR, Mario Teixeira de. A invenção da alva nação umbandista (Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus Dourados (2004)
· ISAIA, Artur César. O Elogio ao Progresso na obra dos Intelectuais de Umbanda – artigo da UFSC

· Diversos sites da Internet, dentre eles destacamos:


- Tenda Espírita Mirim (http://www.tendaespiritamirim.org.br/)

- Tenda Espírita Fraternidade da Luz (http://www.tefl.com.br/)

- A Umbanda na visão de um eterno aprendiz (http://www.marciobamberg.com.br/umbanda)

- Umbanda – A Proto-Síntese Cósmica (http://www.umbanda.org/)

- Círculo dos Irmãos Espiritualista Fé e Caridade (CIEFEC)

terça-feira, 3 de maio de 2011

INCORPORAR? QUANDO?

Não existe um tempo estimado, varía de médium pra médium.

Cada médium tem seu tempo de desenvolvimento, alguns se desenvolvem em pouco tempo e outros levam muito tempo, podendo levar até anos pra se desenvolver.

Existem médiuns que nascem preparados, outros que precisam ser lapidados, o fato é que não há uma regra, para isso, veja bem levando em conta a pluralidade das existências, um médium que desencarna com bastante idade ,ao reencarnar perdeu suas lembranças mas nunca seu conhecimento.

Cada caso é único e depende de uma série de fatores até que o tal desenvolvimento seja atingido.
O desenvolvimento faz parte da Evolução por isso a cada dia e a cada Gira estamos em desenvolvimento.

Há médiuns que estão há anos dentro de uma casa e não chegaram a ter uma incorporação,nesse caso é necessário que o dirigente procure saber o motivo do médium não ter incorporação,pode ser por sua mediunidade não ser de incorporação,ou até mesmo por que o médium bloqueia a Entidade,talvez por medo,insegurança,não consegue atingir a concentração necessária,ou qualquer outro motivo que possa estar atrapalhando a aproximação da Entidade.

Se faz necessário a dedicação dos Pais/Mães de santo estarem atentos as necessidades de seus médiuns iniciantes, para que possam ter orientações,esclarecimentos, para que venham a desenvolver suas faculdades mediúnicas conforme seu nível evolutivo.

Médium,procure dedicar-se,buscar conhecimento,estudar,desligar-se no momento certo,praticar meditação por alguns momentos,buscando a elevação espiritual,concentrar-se em coisas boas,direcionar seus pensamentos a Deus,a espiritualidade de luz,espíritos evoluídos,pratique isso e com certeza irá ter um resultado excelente.

Procure manter-se o mais equilibrado possível nos dias de trabalhos,o mais puro,abstendo-se de certos alimentos,energia sexual,mantendo seus pensamentos positivos, estar em oração,buscando sempre o auxilio espiritual.

Pratique a reforma íntima!

DEDIQUEM-SE MAIS AO AUTO-CONHECIMENTO



Lá nos planos sutis, aonde vocês muitas vezes vão quando dormem, mas ao acordarem não se lembram, existe uma grande família espiritual a lhes esperar, velar e torcer por vocês. Quebrem a barreira vibracional com sentimentos e pensamentos elevados, levando seus corações até eles. Mate a saudade espiritual que existe dentro do seu peito. Deixe a intuição fluir. Os guias espirituais não são mestres intocáveis que vocês devem reverenciar, mas sim, são amigos de jornadas. Conheça – os, converse com eles, trabalhem juntos, mas sorriam e brinquem juntos também. Eles estão te esperando.

Mediunidade é coisa importante e séria, mas não diviniza nem inferioriza ninguém. Vocês sabem disso. Tem gente que pensa que ser grande médium é praticar fenômenos para “incrédulo vê”. Outros pensam que é se vestir todo com uma fantasia, “virar os olhos” e “rebolar” bastante. Não! Mediunidade é você trabalhar em conjunto com os amigos do lado de cá para o bem de todos, apenas isso. Vocês complicam muito as coisas. Na verdade tudo é muito simples. Pense na manifestação das criancinhas durante um processo mediúnico. Existe algo mais simples e belo do que isso?

Parem de julgar a manifestação mediúnica ou a experiência do outro. Você pode até não concordar, mas caso para ele faça sentido, deixe. É dele! Isso lembra muito a postura daquele que não consegue fazer melhor e por isso mesmo vive a criticar e apontar o defeito dos outros. As experiências espirituais muitas vezes são de foro íntimo, cada um busca a sua. E cada um fique feliz com a sua! Aprendam também que a dedicação e o estudo ajudam muito. Mas o que realmente conta é o seu dia a dia, como pessoa comum, passando pelo crivo do grande mestre que é a vida. Não adianta nada estudar muito e praticar pouco.

Fazer caridade é muito bom! Mas esclarecer as pessoas é melhor ainda. Tem gente que acha que doando uma cesta básica de Natal ao desencarnar será “salvo”. Outros ainda se acham muito especiais e caridosos, verdadeiros missionários. Não caiam nessa bobagem. Caso não fossem vocês, seriam outros! Aproveitem a chance que Oxalá deu, pois ao auxiliar os outros vocês ajudam a si próprios. Mas também não apenas dê o peixe, ensine as pessoas a pescarem. “Caridade de consolação” ergue a pessoa, mas depois que ela já está de pé, está na hora de ensiná–la a andar, com a “caridade de esclarecimento”. Pensem nisso! Caridade faça sempre que surgir a oportunidade de auxiliar o irmão. Esclarecimento leve a todos os lugares, fazendo a sua aura brilhar e contagiando as pessoas com alegria e vontade de viver.

Trabalho em grupo é coisa séria, não é reunião social. Os guias escutam os seus pensamentos e não estão nada interessados em suas preferências físicas, nem em suas “paqueras” dentro do grupo. Tão pouco são cúmplices das fofocas, guerras de vaidade e ciúme que existem dentro do mesmo. Um trabalho espiritual em grupo é uma benção e oportunidade única de evolução, tanto de encarnados como desencarnados. Aproveitem bem! Existe um montão de mestres esperando por vocês desse lado, mas muitas vezes eles não conseguem lhes amparar, afinal vocês não param de pensar na “vizinha”, ou como a vida é difícil e injusta…

Os Orixás, os Mestres, os Anjos, os Devas, todos Eles amam a humanidade. Caso queiram fazer um ritual a algum Deles ótimo. Mas lembrem – se sempre. Vela acesa tem muito valor, se o coração estiver aceso antes. Caso contrário, não! A energia de uma erva é poderosa e realmente cura, mas antes suas próprias energias e o respeito com a vida vegetal devem ser grandes, caso contrário, desperdiço de tempo. Qualquer ritual de magia para o bem é lindo e bem quisto pela espiritualidade. Mas não se perca no meio de muitos rituais e elementos. O grande mestre da magia é o coração, e a grande força motriz é a sua mente. Lembrem – se disso.

Não sejam espiritualistas pela metade. Durante o dia vocês ficam pensando em espiritualidade, mas ao dormir, que é a grande hora onde o espírito se liberta do corpo físico, você não pensa em nada, fica com preguiça e logo sua mente é invadida por um monte de coisas, adormecendo na mais perfeita desordem. No mínimo ore ao deitar – se. Agradeça ao dia, coloque – se a disposição de aprendizado, aproveite as horas de sono. Elas são chaves de aceso ao crescimento espiritual. Meditem nisso.

Eu sou um preto – velho*. Pouco importa minha forma ou meu nome. O que importa é que eu sou luz, como vocês e todos nós, filhos da Grande Luz. O sol de Oxalá* brilha em meu coração, no seu e em toda humanidade. Você ainda tem preconceito em relação a raças? A culturas diferentes? Religião? E julga – se espiritualistas? Ora amigo, deixe disso! Lembre – se: todos viemos da mesma fôrma. A fôrma de Oxalá. Eu tenho apenas uma palavra para descrever o preconceito: burrice!

Burrice também são as paredes e preconceitos religiosos. Todos os mestres da humanidade pregaram o desprendimento, mas o que os seus seguidores mais fazem é ter o sentimento de posse em relação a Eles. E lá se vão guerras, ofensas e desarmonia entre uma religião e outra. E lá se vão discussões infindáveis entre doutrinas diferentes. Todos os caminhos levam a Deus, mas que você sempre acha que seu caminho é melhor do que dos outros você acha, não é mesmo? Faz um favor a humanidade: Vai voando nas asas do universalismo ecumênico! E para com essas bobagens…

Do lado de cá nós adoramos música. Ela rejuvenesce a alma, acorda o coração e desperta a intuição. Aproveitem as músicas de qualidade. Elas são ótimas e verdadeiro brilho e alimento para vossos espíritos. Também escute a música que Os Orixás cantam secretamente dentro do coração de cada um. É a música da Criação, ela está em todos, mas só pode ser escutada quando a mente silencia e coração brilha. Pense nisso!

Pense também na natureza. Coloque uma música suave. Direcione – se mentalmente a um desses sítios sagrados, verdadeiros altares vivos do amor de Olorum. Pensa na força curativa das matas, na força amorosa e pacificadora das cachoeiras, da limpeza energética que o mar traz ao espírito. Medita neles. Isso traz sintonia, reciclagem energética e boa disposição. Faça isso por você e fique bem!

Por fim, dediquem – se mais ao autoconhecimento. Ele é super importante. E um dia, mesmo que isso demore milênios, vocês se conhecerão tanto que realmente descobrirão sua natureza divina. Nesse dia, as cortinas da ilusão se abrirão e você verá o universo a sua frente.