Uma posição dessas faz com que a cobiça
pelo cargo seja grande, podendo ocorrer o oposto, ou seja, um medo
desmedido a ponto de se negar que um dia poderá se ocupar aquela
posição. Contudo, o que mais ando presenciando são os novos
Pais-de-Santo imbuídos de poder por uma entidade milenar chamada:
VAIDADE.
Eu estou sempre reforçando o fato da
Umbanda ser algo sério, inclusive repetindo exaustivamente a célebre
frase do Caboclo Mirim:
“Umbanda é coisa séria, para gente séria!”
Porém, existem muitos aventureiros
dentro das linhas umbandistas a se formar. Com o advento dos cursos de
sacerdócio – o que em sua concepção original era uma ideia fantástica –
percebemos a proliferação de mentais desequilibrados em suas paixões
inferiores se auto-denominando Pais-de-Santo, ou pior, Sacerdotes.
Veja bem, já explorei esse tema no artigo O Sacerdócio é um chamado, não é festa,
mas tenho que voltar a tratar do assunto, pois vejo séquitos fanáticos
sendo arraigados por pessoas inescrupulosas ou iludidas.
Achar-se Pai-de-Santo, não o torna um. A
responsabilidade de manter um terreiro, de guiar os filhos de fé – que
geralmente estão perdidos – e ainda possuir capacidade para manter todos
em uma vibração harmoniosa é para poucos que conseguem sobrepujar suas
paixões inferiores.
Ter como meta de vida um cargo
espiritual para se achar melhor que o próximo é tão errado quanto o que
os pastores evangélicos neo pentecostais fazem nos púlpitos. Costumamos
criticá-los tanto, porém estão fazendo o mesmo dentro da Umbanda,
inclusive criaram o dízimo umbandista fantasiado de curso de
desenvolvimento sem fim. Começam a chamar toda sorte de entidades para
incorporar nos médiuns, mas nem sequer se dão ao trabalho de ter um
contato pormenorizado com os mesmos. Não sabem quais são suas
fragilidades, seus desvios de conduta e nem as suas inseguranças e
perguntas. Não há a relação Pai e Filho (olha o peso das palavras).
Pior ainda quando o Pai-de-Santo não tem
sequer experiência. A pessoa entra em um curso de desenvolvimento e se
desenvolve muito precariamente, pois o seu formador também não teve o
zelo necessário para prepará-lo e para apaziguar suas dúvidas e
inquietações. Após o curso introdutório, nem sequer passar pelo processo
de atendimento (por tempo indeterminado) dentro do terreiro, ou seja,
entram em um curso de sacerdócio e pronto! Mais um Pai-de-Santo enlatado
saindo!
É de extrema importância compreender que
a escolha de um dirigente é feita pela ESPIRITUALIDADE. Essa escolha é
muito clara, não vem em sonhos, em inspirações ou em intuições. Tampouco
vêm no “me disseram que eu deveria fazer…”. Ela vem claramente como um
soco no estômago! Você simplesmente saberá que está comprometido com a
espiritualidade e seu PAI irá te indicar isso, terá cuidado na sua
formação e não te colocará dentro de um curso com dezenas de outros
“Pais-de-Santos-wannnabes”. Após você ser escolhido, ainda passará pela
confirmação do compromisso de suas entidades. Então as coisas começaram a
ser desenvolvidas por anos e não apenas em poucos meses.
O mais importante de tudo não são as
iniciações, trabalhos, oferendas, passagens de bastão e afins. O mais
importante de uma preparação sacerdotal é a caridade, a condolência, o
emprego do amor, a reforma íntima e a prestação de serviços dentro do
terreiro. Não pode se tornar Pai-de-Santo quem nunca se dispôs a limpar o
terreiro depois da gira.
Dessa forma, torna-se crucial a
preparação através do aprendizado prático. Não existe nada que o possa
substituir. Um sacerdócio teórico é bom apenas para acumular informação,
porém sem colocá-lo em prática, de nada vale. Por isso que médiuns
novatos não podem ser “consagrados” Pais-de-Santo assim de qualquer
jeito. Ele precisa passar pela experiência da consulta, de entender as
dificuldades das pessoas que irão passar com ele, de saber resolver um
possível caso de “possessão de kiumbas”, encaminhamento de eguns, trazer
conforto para o coração de uma pessoa inquieta, apaziguar ânimos e
muito mais. Para isso, vão-se anos!
Então se você está lendo isso e torcendo
o nariz, possivelmente está se enquadrando no texto. Não tenha pressa
para se tornar algo que não é determinado para você. Não se brinca com a
espiritualidade. Lembre-se que acima de tudo a Umbanda prega a
Caridade, a Simplicidade e a Humildade. Então seja a Umbanda!
Por Douglas Rainho · 02/07/2015
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